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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Papangus de volta para a folia

Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) escreveu em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” que a figura do papangu surgiu vinculada às procissões religiosas: iam na frente para garantir a passagem do cortejo, “fustigando com um comprido relho (açoite) o pessoal que impedia a marcha”. O próprio Cascudo também registrou que a igreja Católica, ainda na primeira metade do século 19, proibiu a presença do personagem mascarado durante as celebrações da Quaresma – período que se inicia justamente na Quarta-feira de Cinzas, logo após a Terça-feira Gorda. Outros estudos ainda dão conta que o papangu é uma versão tropical, sem luxo nem brilho, dos fantasiados europeus. 

Independente da origem, a tradição perdeu terreno nas grandes cidades e a brincadeira passou um tempo adormecida em Natal. “Acredito que a mercantilização do Carnaval, a sofisticação das fantasias e os novos formatos da festa foram enfraquecendo a brincadeira. Como muita gente não conhece os papangus, criamos o bloco para não deixar a tradição desaparecer”, disse o produtor cultural Edilson Mano, 48, idealizador e principal articulador do bloco Us Papangus da Redinha, que em 2015 completa nove anos de folia. 

Desde seu surgimento, o bloco passou a marcar presença na abertura oficial do Carnaval natalense, evento que acontece no Largo do Atheneu na quinta que antecede a folia; mas é no domingo, lá para as bandas da praia da Redinha, que eles se concentram para fazer a festa: deles e de quem mais estiver por perto. “No começo muita gente tinha vergonha de se fantasiar, mas foi questão de tempo para se sentirem à vontade. Hoje saímos em média com um grupo de 40 a 60 papangus”, informou Edilson. “As crianças são as mais curiosas”. A concentração do bloco acontece na Praça do Cruzeiro, pólo tradicional do Carnaval na Redinha, e a saída em cortejo marcada para às 17h do domingo (15). “Para participar é só chegar e trazer a alegria”, avisa o produtor.

Figura típica do Carnaval brasileiro, sobretudo no Nordeste, o papangu tem como princípio básico manter o sigilo da identidade do mascarado. Geralmente vestem fantasias improvisadas, feitas com toalhas de mesa, cortinas e/ou roupas velhas. Andam em bando e antigamente, antes de caírem na folia, os brincantes costumavam comer angu para ganhar energia para segurar os dias de farra sem serem reconhecidos.

Focos de resistência são vistos com frequência em cidades do interior do RN, como Santa Cruz, São José de Mipibu, Ouro Branco, Martins, Nísia Floresta, Tibau do Sul e São Miguel do Gostoso, tendo como referência maior a cidade de Bezerros (no agreste pernambucano), conhecida como a Capital do Papangu.

“Antes de criar o bloco, me vestia de papangu quando era criança; minhas irmãs e meu irmão mais velho eram mais envolvidos, eu ia brincar nos blocos das praias”, recorda Edilson Mano.

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