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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Irmã Lúcia: 90 anos de humildade

No dia 12 de fevereiro serão noventa anos de oração e ação social. A aniversariante é Irmã Lúcia. Sua história se confunde com a da Casa do Menor Trabalhador, instituição que fundou em 1987, inicialmente para oferecer educação a meninos de rua, sob os preceitos de sua congregação, Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. “Ver Cristo no pobre e o pobre em Cristo”, recomenda o santo que aparece na imagem rodeado de crianças acolhidas pelas ruas, São Vicente de Paulo. Foi isso que Irmã Lúcia fez quando começou com a se dedicar a obras sociais. Primeiro na Casa da Criança de Morro Branco, por pouco mais de dez anos. A partir daí criou o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Município de Natal (Comdica) e o Conselho Municipal de Assistência Social (Cmas).

Humberto SalesIrmã Lúcia na Casa do Menor Trabalhador, inaugurada em 1987
Irmã Lúcia na Casa do Menor Trabalhador, inaugurada em 1987

Foi então que Irmã Lúcia recebeu um terreno da Congregação, anexo do Externato Dom Marcolino Dantas, para construção de casa de apoio a meninos em situação de rua. A ação começou embaixo de uma mangueira e foi crescendo até se tornar escola de ensino fundamental. Desde 2003 oferece também cursos profissionalizantes. 

A Casa do Menor Trabalhador foi fundada em 1987, quando a Campanha da Fraternidade lançou o tema “Quem acolhe o menor, a mim acolhe”, pregando uma política voltada para a defesa do menor carente. 

Em todos esses anos de história, a freira acredita que o que mais mudou nos jovens foi principalmente a visão de mundo que têm. “Hoje eles têm mais segurança neles próprios com o preparo profissionalizante, porque saem daqui já encaminhados”. 

Os resultados positivos também lhe dão mais confiança em continuar trabalhando assim. “Tenho mais segurança para acolher mais meninos. Quero muito bem ao trabalho e aos alunos. A gente tem mais segurança quando vê a coisa funcionando”. E ela se mantém ativa, apesar das cirurgias no coração. “Irmã Lúcia ainda quer assinar os cheques, quer ir para a linha de batalha pedir dinheiro. Temos que poupá-la. Precisamos dela por mais uns 90 anos”, disse o diretor administrativo da Casa, Jorge Medeiros. 

Séria e exigente com os que a cercam, a religiosa segue uma rotina que inclui acordar cedo, rezar na capelinha de casa, tomar um bom café da manhã e cumprir a agenda de compromissos. Todos os dias Irmã Lúcia e Bob, seu poodle cinza, vão à missa na Catedral Metropolitana. Ele e Pitucha, uma cadelinha afoita, são tratados como filhos; duas crianças.  


Além dos cães, moram com a religiosa a sua nora (ela tinha um filho adotivo, falecido há quatro anos), Rosa, e dois netos, Emanuel de 5 anos e uma adolescente de cabelo vermelho e piercing de 15, Lígia, que leva o nome da avó. Irmã Lúcia nasceu Lígia de Souza Montenegro. Na época em que se tornou freira, a congregação designava um novo nome às noviças. Um ato de desapego por que tinham que passar para iniciar uma vida de renúncia e doação. E a Irmã sempre lidou muito bem com as exigências que o caminho lhe impôs.

Aos sete anos de idade saiu de Quixadá, no Ceará, para a capital, Fortaleza. Estudou Magistério e da Congregação deixou o Ceará para estudar Serviço Social na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), nos anos 70. Depois, veio o Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A decisão de seguir vida religiosa foi tomada em 1947, inspirada pela vida cristã que aprendera com os pais e pela irmã Maria Montenegro, uma dos nove filhos, que já estava na Congregação. O compromisso diário com a igreja começou muito cedo. Quando era criança acompanhava os pais nas celebrações da Catedral de Fortaleza. Brincava, rezava e estudava. “Muito grande, em cima de muito espaço, as colegas iam pra lá. Tanto a gente rezava, como recebia aulas de formação cristão e rezava”. Já freira, por 20 anos foi professora. Em Natal, ministrou uma disciplina chamada Serviço Social de Casos, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No Seminário de São Pedro, ensinou Sociologia Religiosa. 

O ensino profissionalizante da Casa é mantido em parceria com o Instituto George Mark Klabin, de um judeu. Além disso, a irmã recebeu homenagem do líder espírita Divaldo Franco, durante o Movimento Você e a Paz no início de janeiro. Ela conta que respeita todas as religiões e convive muito bem com todas. 

Sobre a ajuda que recebe das mais diversas entidades e pessoas, diz que não tem vergonha de pedir. “Peço a Deus e ao mundo”. E justifica: “Não é pra mim!”. Quanto aos pedidos ao Superior, ela divide também entre Nossa Senhora e São José, patrono da Casa. “Aperreio muito ele. Foi um santo que passou pra gente muita humildade, muita fidelidade a Jesus e a Maria, trabalhou com o suor do rosto para sustentar a Sagrada Família. Ele é o chefe”.

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