A lembrança do dia 12 de abril de 2009 segue cristalina na memória de Silvana Lima. Uma imagem marcada na pele da surfista de 30 anos em forma de tatuagem, com o desenho do troféu de Bells Beach, na Austrália. Foi lá que a única representante do Brasil na elite conquistou o primeiro título para o país e tocou o sino na lendária praia em um dia iluminado, derrotando na final a australiana hexa mundial Stephanie Gilmore. De volta ao Circuito Mundial (CT) de 2015 após terminar a temporada como líder da Divisão de Acesso (QS), Silvana terá a chance de repetir o feito ao retornar ao local para a segunda etapa do ano, de 1º a 12 de abril.
- Aquele dia foi realmente iluminado, eu acordei bem cedinho, fiz minhas orações e fui para o campeonato. Competi as quartas, semi e quando entrei para final falei para Tati, minha empresária, Tatiane Rodrigues, que eu estava superfeliz com um segundo lugar. Mas eu estava ali para vencer e iria com toda garra para a água. Pedi a papai do céu para me permitir soltar meu surfe e fazer o que eu mais sei fazer da vida. Deu tudo certo, fiz história, marquei minha vida em ser a primeira brasileira a vencer Bells Beach, uma etapa tão tradicional e importante. Todos querem um dia "tocar o sino", por isso, fiz a tatuagem com o troféu. Espero repetir o meu feito. Estou superbem para temporada 2015, pronta para surfar - disse a brasileira, que ocupa atualmente a quinta posição no ranking mundial.
Vice-campeã mundial em 2008 e 2009, Silvana superou uma série de dificuldades para voltar ao seleto grupo das 16 melhores atletas do mundo. A cearense de Paracuru precisou tirar dinheiro do próprio bolso para bancar as viagens do QS e, assim, tentar a vaga para o CT. Vendeu o apartamento que tinha no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, o carro e ainda usou o dinheiro arrecadado com a venda dos buldogues franceses de seu canil para arcar com os altos custos de passagens, hotéis e alimentação no exterior. O esforço valeu a pena.
Depois de conseguir viajar para as etapas de Hossegor, na França, e da Galícia, na Espanha, a cearense garantiu a sua vaga. As lesões constantes nos joelhos e o histórico de operações assustou os patrocinadores, que optaram por não renovar com a surfista, que precisou disputar a temporada de 2013 no sacrifício. Ela não conseguia nem entrar, só competia, mas não conseguiu permanecer no CT em 2014. Nunca pensou em desistir e agora renova as esperanças de conquistar o título mundial após uma grande temporada em excelente forma.
- Meus joelhos estão 100%, graças a Deus e a muita dedicação. Me sinto superbem. Desistir, jamais. Sei o potencial que tenho, apesar de ter 30 anos e ser a mais velha do CT feminino, eu surto como adolescente e até as meninas comentam isso (risos) - analisou Silvana.
Hoje, ela sente um misto de alívio e felicidade por estar na elite, embora ainda esteja preocupada pela falta de um patrocinador principal. Por vezes, cogita a possibilidade de preconceito em relação às mulheres no esporte, já que na elite masculina, por exemplo, os sete representantes do Brasil não sofrem com os mesmos problemas de patrocínio.
- Sinceramente, não sei o que preciso fazer para que algum empresário acredite em mim, talvez seja preconceito com meninas? Não sei. Todos os meninos do CT têm bons patrocínios e conseguem se preocupar somente em surfar e treinar. A viagem para Austrália eu vim novamente com a venda de uma ninhada de meu canil. Alguns brasileiros me recebem em suas residências, as pessoas me escrevem e me ajudam em alguns lugares. Depois de Gold Coast, conversei com algumas marcas, muita gente curiosa querendo conversar, saber detalhes e tal, mas nada foi fechado, somente para co-patrocínios (borda da prancha, apoio e outros), mas o principal, não.
Na primeira etapa do CT, em Snapper Rocks, na Gold Coast australiana, Silvana impressionou a todos com um estilo radical e moderno, dando um show de manobras e um aéreo que lhe rendeu aúnica nota 10 da disputa feminina. A cearense acabou caindo nas quartas de final diante de Stephanie Gilmore em um duelo marcado pelo equilíbrio, no terceiro encontro entre as duas na competição (duas vitórias de Steph e uma de Silvana). A inspiração da brasileira vem da nova geração. Realizando manobras raras entre as mulheres, ela se espelha em atletas como o americano Dane Reynolds, "showman" californiano, conhecido pelas manobras inovadoras.
- Eu me sinto bem na Austrália, tenho bastante amigo aqui e me sinto confortável com a onda também, essa direitinha de Snapper é show. A repercussão do meu desempenho foi bem bacana, fiquei feliz em saber que minha família e amigos me assistiram em programas em rede nacional, me sinto orgulhosa de mim mesma por estar conquistando um espaço. Infelizmente, ali nas quartas, não veio a onda da final, mas estou superfeliz porque realmente provei que a Silvana Lima está bem e está de volta (risos) - finalizou.
CONFIRA AS BATERIAS EM BELLS BEACH
1: Malia Manuel (HAV) x Bianca Buitendag (AFR) x Laura Enever (AUS)
2: Sally Fitzgibbons (AUS) x Silvana Lima (BRA) x Nikki Van Dijk (AUS)
3: Carissa Moore (HAV) x Dimity Stoyle (AUS) x TBD
4: Stephanie Gilmore (AUS) x Tatiana Weston-Webb (HAV) x Alessa Quizon (HAV)
5: Tyler Wright (AUS) x Johanne Defay (FRA) x Sage Erickson (EUA)
6: Lakey Peterson (EUA) x CourtneyConlogue (EUA) Coco Ho (HAV)
2: Sally Fitzgibbons (AUS) x Silvana Lima (BRA) x Nikki Van Dijk (AUS)
3: Carissa Moore (HAV) x Dimity Stoyle (AUS) x TBD
4: Stephanie Gilmore (AUS) x Tatiana Weston-Webb (HAV) x Alessa Quizon (HAV)
5: Tyler Wright (AUS) x Johanne Defay (FRA) x Sage Erickson (EUA)
6: Lakey Peterson (EUA) x CourtneyConlogue (EUA) Coco Ho (HAV)
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