O atual ambiente de negócios no Brasil, que inclui custos empresariais mais altos e rumores sobre freio em investimentos, não é visto como ameaça pelo economista José Mendes Batista, que assumiu a superintendência do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte em fevereiro deste ano. A projeção, segundo ele, é que a instituição contrate ao menos R$ 1,6 bilhão em projetos no estado. “Hoje, nós temos demandas efetivas de mais de R$ 1 bilhão em investimentos e nós só estamos no mês de março”, diz. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ela aponta essa e outras perspectivas relacionadas ao crédito e à economia. Ressalta, ainda, o destaque que as micro e pequenas empresas vêm alcançando nos negócios do banco, com crescimento acima da média. Confira a entrevista:
Quais foram os resultados do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte ao longo de 2014?
Nos últimos quatro anos, as atividades do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte tem sido razoavelmente estáveis. No ano passado, os investimentos globais do banco se mantiveram praticamente idênticos a 2013. A média desses últimos quatro anos tem situado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão. Nos últimos oito anos, nós saímos de um patamar de R$ 800 milhões e chegou a R$ 1,6 bilhão. Nós temos observado que esse valor está no limite das demandas do estado. O que nós observamos foi que, ano a ano, a existência de projetos maiores, que não é todo ano que aparece, isso puxa um pouco o volume. A previsão para esse ano é a de R$ 1,6 bilhão em negócios, mas o desafio é de superar um pouco.
O que chama atenção quando esse montante é estratificado?
O crescimento dos pequenos em relação ao total. A gente saiu, a cada ano, com um número interessante. Se o volume total está estável, os pequenos tem crescido, em média, 20% ao ano. A proporção dos pequenos em relação aos grandes clientes tem elevado bastante. No ano passado, os pequenos, com a Microfinança, chegou a mais de R$ 500 milhões. Nossa Microfinança está dividida no Crediamigo, que é a Microfinança Urbana e também a Microfinança Rural. Esse ano, somente na Microfinança Urbana, nós iremos passar dos R$ 500 milhões. O valor médio das operações é de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil por cliente. E isso é importante porque dá sustentabilidade aos negócios. É um crescimento retilíneo, que nos últimos dez anos cresceu no mesmo nível, entre 20% e 30%. Para esse ano, minha previsão é de que 35% que a gente investir aqui será em Microfinança. Somente na área urbana, nós ultrapassamos os 105 mil pequenos empreendedores, a maioria de revendedores informais. Nós temos uma estatística interessante: para cada um dos nossos microclientes, nós temos mais uma pessoa, no mínimo, que depende dele. Ou seja, são mais de 200 mil potiguares que sobrevivem integral ou parcialmente desse nosso programa. Eu acho esse um crescimento muito interessante. A participação relativa dos pequenos no grande montante tem evoluído bastante e é bem visível.
E para 2015, diante desse cenário financeiro instável, como será o financiamento via BNB no estado? Será minimizado?
O desafio para esse ano é chegar a R$ 1,6 bilhão e eu acho que iremos ultrapassar. O Banco do Nordeste é um braço do plano de políticas públicas do Governo Federal. Até tivemos reuniões com a Associação Comercial, com a CDL, para detalhar que o nosso papel é o de fazer uma política anti-cíclica. A gente tem que ir ao encontro desses pensamentos muito negativistas. Trazendo isso para a Economia, chamamos de “efeito manada”. Na realidade, a situação não está tão ruim assim. O “efeito manada” é assim: se vem uma boiada e um boi quebra a cerca e corre, todos vão atrás sem saber para onde estão indo e correm o risco de cair num buraco. Mas, porque eu digo que iremos ultrapassar? Hoje, nós temos demandas efetivas de mais de R$ 1 bilhão em investimentos e nós só estamos no mês de março. A previsão de investimentos em Microfinanças é de R$ 600 milhões e R$ 500 em propostas maiores. Todo o cenário indica que esse ano iremos superar R$ 1,6 bilhão. Não tenho a menor dúvida disso. Nós temos no cenário de negócios, aqueles que são mais imediatistas, que a execução e realização do projeto é mais imediata, então esse pessoal é um pouco mais afetado pelo atual momento. Mas, nós temos empresas que demoram um ano ou mais para ser implantado. Então, começa agora para produzir em dois anos. O cenário que os empresários estão vendo é um cenário de médio e longo prazo. Não é um cenário de hoje. Esse pessoal é pouco afetado pelas oscilações imediatas, que atingem, por exemplo, o comércio de um item específico que não é de consumo cotidiano.
É aquela máxima de encontrar oportunidade na adversidade?
Exatamente. É nesse momento que aparece a oportunidade de crescer e fortalecer, surgir uma ideia nova. Quando está na mesmice, há uma acomodação muito geral. Quando há esse atropelo, acontece isso de os empresários enxergarem o que nunca conseguiram enxergar. São esses que vão sobreviver. Sobretudo o empresário brasileiro, que precisa ter capacidade de adaptação imensa. Se saí de um dólar de R$ 1,50 e chega a R$ 3,00 e a inflação alta, de repente o Governo dá uma desoneração fiscal e volta a cobrar de novo. Ou seja, tem que ter uma mobilidade muito grande.
E a mudança tributária para as empresas anunciadas pelo Governo Federal, que deverá impactar ainda mais a folha de pagamento, qual reflexo terá localmente?
Bom, eu acho que não. Quando as alterações são homogêneas, nas quais não há privilégios de alguns setores em detrimento de outros, normalmente há uma acomodação geral. E hoje, na nossa estrutura econômica, espaço para muito malabarismo não. Se ocorrerem mudanças, elas não serão tão significativas a ponto de percebermos uma mudança muito grande. O espaço que há para mexer hoje, para alterar encargos trabalhistas, isso aí é muito pequena a margem que tem. O Governo pode até fazer isso através de uma medida impositiva, de uma medida provisória. Mas o Congresso está lá para fazer os reparos. Se for projeto de lei, também haverá os reparos por lá. Na prática, traduzindo isso para negócios, a gente não enxerga grandes impactos.
O Banco do Nordeste está apreensivo de alguma forma com essa nova política do Governo Federal, com as mudanças que estão em curso no viés tributário do país?
O orçamento do Banco do Nordeste como um todo é de aproximadamente R$ 30 bilhões. São recursos que não dependem de orçamento da União. A única coisa que recebemos da União é referente à composição da FNE, que é composto pela 1,8% do que se arrecada com IPI e Imposto de Renda. O FNE é um fundo rotativo. Ao longo dos anos, vem acumulando. Nós temos a previsão de aplicar R$ 14 bilhões no FNE. Desse total, somente 1/3 é de novos recursos que entram. O restante são recursos que nós já temos em casa e recebemos. Nós aperfeiçoamos muito a concessão de empréstimo e o índice de liquidez da operação aumentou muito. Quando se empresta e recebe, o dinheiro circula muito e isso faz com que o volume de recursos a gente reempresta todo ano, decorrente de reembolso, se eleve cada vez mais.
Mas isso também depende da inadimplência controlada, não é?
Exatamente. Hoje, nós temos uma auto-regulamentação muito grande, que limita o volume de empréstimos, a liquidez. Então, ultimamente, poucos bancos que são auto-regulados, tiveram problemas financeiros. O setor bancário hoje está muito blindado e isso faz com que nossas operações tenham um índice de liquidez alto.
A revisão da taxa Selic vai chegar ao limite da blindagem da expansão dos negócios?
A taxa Selic é, na verdade, macroeconômica e não entra muito no dia-a-dia das pessoas. A Selic aumenta os juros para que, ao invés de se consumir, se guarde o dinheiro. Não consumindo, a tendência do preço é baixar e controlar a inflação, em regra. Mas, a Selic ela tem um limite. Cada ponto percentual que sobre, impacta direto nas contas públicas e a maioria dos títulos do Governo Federal é atrelado à Selic. Se eu aumento a Selic, terei que pagar mais juros para pagar a minha dívida. Eu acho que vai ter limite. Minha opinião como economista, é de que ela deve subir mais um ou dois pontos e não terá mais espaço, porque ela deixa de fazer o efeito para o qual se destina, que é controlar a inflação, basicamente.
O senhor acredita que o atual cenário econômico culminará com o fechamento em massa de micro e pequenas empresas?
Pode. Pode acontecer. No mercado, existem empresas que são mais alavancadas e menos alavancadas. Algumas dependem exclusivamente de capital de terceiros, que usam muito o capital de giro. Essas empresas são mais sensíveis ao custo do capital, pois reflete no custo da produção e aumenta o preço dos produtos.
Quais foram os resultados do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte ao longo de 2014?
Nos últimos quatro anos, as atividades do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte tem sido razoavelmente estáveis. No ano passado, os investimentos globais do banco se mantiveram praticamente idênticos a 2013. A média desses últimos quatro anos tem situado entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão. Nos últimos oito anos, nós saímos de um patamar de R$ 800 milhões e chegou a R$ 1,6 bilhão. Nós temos observado que esse valor está no limite das demandas do estado. O que nós observamos foi que, ano a ano, a existência de projetos maiores, que não é todo ano que aparece, isso puxa um pouco o volume. A previsão para esse ano é a de R$ 1,6 bilhão em negócios, mas o desafio é de superar um pouco.
O que chama atenção quando esse montante é estratificado?
O crescimento dos pequenos em relação ao total. A gente saiu, a cada ano, com um número interessante. Se o volume total está estável, os pequenos tem crescido, em média, 20% ao ano. A proporção dos pequenos em relação aos grandes clientes tem elevado bastante. No ano passado, os pequenos, com a Microfinança, chegou a mais de R$ 500 milhões. Nossa Microfinança está dividida no Crediamigo, que é a Microfinança Urbana e também a Microfinança Rural. Esse ano, somente na Microfinança Urbana, nós iremos passar dos R$ 500 milhões. O valor médio das operações é de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil por cliente. E isso é importante porque dá sustentabilidade aos negócios. É um crescimento retilíneo, que nos últimos dez anos cresceu no mesmo nível, entre 20% e 30%. Para esse ano, minha previsão é de que 35% que a gente investir aqui será em Microfinança. Somente na área urbana, nós ultrapassamos os 105 mil pequenos empreendedores, a maioria de revendedores informais. Nós temos uma estatística interessante: para cada um dos nossos microclientes, nós temos mais uma pessoa, no mínimo, que depende dele. Ou seja, são mais de 200 mil potiguares que sobrevivem integral ou parcialmente desse nosso programa. Eu acho esse um crescimento muito interessante. A participação relativa dos pequenos no grande montante tem evoluído bastante e é bem visível.
E para 2015, diante desse cenário financeiro instável, como será o financiamento via BNB no estado? Será minimizado?
O desafio para esse ano é chegar a R$ 1,6 bilhão e eu acho que iremos ultrapassar. O Banco do Nordeste é um braço do plano de políticas públicas do Governo Federal. Até tivemos reuniões com a Associação Comercial, com a CDL, para detalhar que o nosso papel é o de fazer uma política anti-cíclica. A gente tem que ir ao encontro desses pensamentos muito negativistas. Trazendo isso para a Economia, chamamos de “efeito manada”. Na realidade, a situação não está tão ruim assim. O “efeito manada” é assim: se vem uma boiada e um boi quebra a cerca e corre, todos vão atrás sem saber para onde estão indo e correm o risco de cair num buraco. Mas, porque eu digo que iremos ultrapassar? Hoje, nós temos demandas efetivas de mais de R$ 1 bilhão em investimentos e nós só estamos no mês de março. A previsão de investimentos em Microfinanças é de R$ 600 milhões e R$ 500 em propostas maiores. Todo o cenário indica que esse ano iremos superar R$ 1,6 bilhão. Não tenho a menor dúvida disso. Nós temos no cenário de negócios, aqueles que são mais imediatistas, que a execução e realização do projeto é mais imediata, então esse pessoal é um pouco mais afetado pelo atual momento. Mas, nós temos empresas que demoram um ano ou mais para ser implantado. Então, começa agora para produzir em dois anos. O cenário que os empresários estão vendo é um cenário de médio e longo prazo. Não é um cenário de hoje. Esse pessoal é pouco afetado pelas oscilações imediatas, que atingem, por exemplo, o comércio de um item específico que não é de consumo cotidiano.
É aquela máxima de encontrar oportunidade na adversidade?
Exatamente. É nesse momento que aparece a oportunidade de crescer e fortalecer, surgir uma ideia nova. Quando está na mesmice, há uma acomodação muito geral. Quando há esse atropelo, acontece isso de os empresários enxergarem o que nunca conseguiram enxergar. São esses que vão sobreviver. Sobretudo o empresário brasileiro, que precisa ter capacidade de adaptação imensa. Se saí de um dólar de R$ 1,50 e chega a R$ 3,00 e a inflação alta, de repente o Governo dá uma desoneração fiscal e volta a cobrar de novo. Ou seja, tem que ter uma mobilidade muito grande.
E a mudança tributária para as empresas anunciadas pelo Governo Federal, que deverá impactar ainda mais a folha de pagamento, qual reflexo terá localmente?
Bom, eu acho que não. Quando as alterações são homogêneas, nas quais não há privilégios de alguns setores em detrimento de outros, normalmente há uma acomodação geral. E hoje, na nossa estrutura econômica, espaço para muito malabarismo não. Se ocorrerem mudanças, elas não serão tão significativas a ponto de percebermos uma mudança muito grande. O espaço que há para mexer hoje, para alterar encargos trabalhistas, isso aí é muito pequena a margem que tem. O Governo pode até fazer isso através de uma medida impositiva, de uma medida provisória. Mas o Congresso está lá para fazer os reparos. Se for projeto de lei, também haverá os reparos por lá. Na prática, traduzindo isso para negócios, a gente não enxerga grandes impactos.
O Banco do Nordeste está apreensivo de alguma forma com essa nova política do Governo Federal, com as mudanças que estão em curso no viés tributário do país?
O orçamento do Banco do Nordeste como um todo é de aproximadamente R$ 30 bilhões. São recursos que não dependem de orçamento da União. A única coisa que recebemos da União é referente à composição da FNE, que é composto pela 1,8% do que se arrecada com IPI e Imposto de Renda. O FNE é um fundo rotativo. Ao longo dos anos, vem acumulando. Nós temos a previsão de aplicar R$ 14 bilhões no FNE. Desse total, somente 1/3 é de novos recursos que entram. O restante são recursos que nós já temos em casa e recebemos. Nós aperfeiçoamos muito a concessão de empréstimo e o índice de liquidez da operação aumentou muito. Quando se empresta e recebe, o dinheiro circula muito e isso faz com que o volume de recursos a gente reempresta todo ano, decorrente de reembolso, se eleve cada vez mais.
Mas isso também depende da inadimplência controlada, não é?
Exatamente. Hoje, nós temos uma auto-regulamentação muito grande, que limita o volume de empréstimos, a liquidez. Então, ultimamente, poucos bancos que são auto-regulados, tiveram problemas financeiros. O setor bancário hoje está muito blindado e isso faz com que nossas operações tenham um índice de liquidez alto.
A revisão da taxa Selic vai chegar ao limite da blindagem da expansão dos negócios?
A taxa Selic é, na verdade, macroeconômica e não entra muito no dia-a-dia das pessoas. A Selic aumenta os juros para que, ao invés de se consumir, se guarde o dinheiro. Não consumindo, a tendência do preço é baixar e controlar a inflação, em regra. Mas, a Selic ela tem um limite. Cada ponto percentual que sobre, impacta direto nas contas públicas e a maioria dos títulos do Governo Federal é atrelado à Selic. Se eu aumento a Selic, terei que pagar mais juros para pagar a minha dívida. Eu acho que vai ter limite. Minha opinião como economista, é de que ela deve subir mais um ou dois pontos e não terá mais espaço, porque ela deixa de fazer o efeito para o qual se destina, que é controlar a inflação, basicamente.
O senhor acredita que o atual cenário econômico culminará com o fechamento em massa de micro e pequenas empresas?
Pode. Pode acontecer. No mercado, existem empresas que são mais alavancadas e menos alavancadas. Algumas dependem exclusivamente de capital de terceiros, que usam muito o capital de giro. Essas empresas são mais sensíveis ao custo do capital, pois reflete no custo da produção e aumenta o preço dos produtos.
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